Aos 30 anos, Hygor Silva dos Anjos trocou o caixa do tradicional Cachorro-Quente do Edmilson, na quadra 2 do setor norte do Gama, pela farda da Polícia Militar do Distrito Federal. Após três anos e meio de estudos intensos, inúmeras reprovações e jornadas duplas de trabalho, ele conquistou sua aprovação e participou, no dia 13 de maio, da maior formatura da história da corporação: o 11º Curso de Formação de Praças da PMDF, com 1.234 novos soldados, na Arena BRB Mané Garrincha.
A trajetória até a conquista foi marcada por esforço e disciplina. Hygor estudava todos os dias das 8h às 13h e das 14h às 17h, utilizando a técnica pomodoro — ciclos de 25 minutos de foco com pausas programadas. À noite, das 18h30 até 0h30, assumia o atendimento no caixa do negócio da família. “Cada reprovação era um balde de água fria, mas eu respirava fundo e me perguntava: ‘Você vai parar agora?’ E a resposta sempre foi não”, conta.
Homem preto e de origem humilde, Hygor enfrentou também os desafios sociais que marcam a realidade de muitos jovens das periferias. “Senti o peso do preconceito, da desconfiança, das portas fechadas. Mas isso não me impediu. Isso me fortaleceu”, afirma.
O apoio da mãe foi fundamental na caminhada. E os anos no cachorro-quente deixaram marcas profundas. “Foi minha primeira escola. Aprendi a lidar com pessoas, respeitar, ter empatia. E tudo isso é essencial na vida de um policial”, diz.
Agora, já formado, ele deseja retribuir. Quer ajudar quem ainda está na caminhada, inspirar outros jovens e ser um agente de transformação social. “Ser policial é proteger, servir e inspirar. É lembrar todos os dias de onde a gente veio.”
Aos garotos do Gama que, como ele, estão na rua batalhando por um futuro melhor, Hygor deixa um recado direto: “Pode parecer difícil, mas não desiste. Cada lanche que você vende hoje é uma prova da sua força. Um dia, você vai olhar pra trás e ver que valeu.”